Elmo Ramos entrevista o organizador e responsável pela prova mais excitante do tour mundial APB, o já consagrado Itacoatiara Pro.
Ride It! – Quais as razões para fazer esse campeonato? Visibilidade, dinheiro/patrocínio…
Giu Lara – Existem muitas razões, mas nenhuma delas é mais importante que a fé e o amor por aquilo que acreditamos.
Eu conheci diversas pessoas que buscam recursos de outras fontes para injetar naquilo que acreditam e comigo não foi diferente.
Eu amo o que faço e tenho uma fé inabalável por isso. Se você acredita de verdade no que faz, não há nada que te convença do contrário. Mas é preciso fazer bem feito!
É claro que a questão financeira é fundamental, todos temos que trabalhar e sustentar nossas famílias, a diferença é que uns conseguem trabalhar com aquilo que gostam e isso faz a vida muito melhor.
Qualquer trabalho é digno, mas se não estivermos satisfeitos com o nosso, alguma coisa tem que ser feita.
Sobre o Mundial em Itacoatiara, ele não acontece por acaso. Aqui o bodyboard é auto suficiente e movimenta a economia.
Temos um microcosmo do esporte aqui, com grandes atletas profissionais, amadores e da nova geração. Entusiastas, fotógrafos, video makers e empresas que nos apoiam, por que movimentamos o mercado e o turismo com o esporte.
O Itacoatiara Pro é maior evento esportivo da cidade e o maior campeonato de bodyboarding do Brasil, senão do mundo, que traz dinheiro e visibilidade para a região. As empresas precisam de capital para girar e o mundial coloca dinheiro aqui, por isso que funciona.
Não havendo movimentação financeira, não há investimento no esporte e a economia trava pra todos os lados.
Isso serve para tudo, se você quer fazer algo acontecer e dar certo, precisa saber buscar recursos (dinheiro) e não basta pegar onda, ganhar campeonatos e postar sua foto maneira nas redes sociais. Isso não vai fazer você viver do esporte.
Eu insisto para que nós frequentadores tenhamos como prioridade consumir produtos e serviços aqui dentro e que o dinheiro circule entre nós. Comprar material de atletas locais e consumir de empresas ( lojas, hotéis, restaurantes ) que investem no bodyboard.
Isso é capitalizar a nós mesmos. Gastar em outros lugares é fazer justamente o contrário.
Eu não gasto um real em empresas que não reinvestem no meu esporte, salvo se não houver outra opção. Transformamos a praia de Itacoatiara na principal referência de ondas grandes no país e isso é mérito dos bodyboarders.
Se ainda existe alguém que fale mal do bodyboard, mostre a ele um vídeo de atletas de ponta surfando em Itacoatiara e a opinião dele vai mudar na hora. Nós construímos um produto atraente, um esporte extremo, impactante, que gera benefícios para todos.
As empresas se renovam ano após ano e muitas delas estão conosco desde o início. Seria uma injustiça citar uma e não todas.
Sou grato igualmente a cada uma delas, especialmente a enorme comunidade de bodyboarders que defende a nossa praia e aos poucos começa acreditar que é possível ter uma carreira como atleta, competidor ou freesurfer, mas que o mais importante é saber fomentar o esporte aqui dentro para que ele sempre esteja crescendo.
RI! – Como é vista a onda de Itacoatiara perante a comunidade global? Comente sobre as ondas nota 10, o tamanho e constância dos últimos anos. Em quantas praias de fundo de areia se realizam etapas do tour e em que posto está Itacoatiara? Você acha que as nossas ondas favorecem aos brasileiros? Comente isso tendo em conta que nenhum brasileiro venceu a prova até hoje.
GL – É uma onda temida e respeitada pelos maiores big riders do mundo sejam surfistas, bodyboarders ou bodysurfers.
A competição acontece sempre entre os meses de junho e julho com uma janela de 11 dias.
Sempre tivemos ondas grandes dentro do período e isso é uma coisa previsível dentro da nossa rotina.
Estamos acostumados a ver ondas de 6 a 10 pés com uma freqüência razoável no inverno, e isso faz com que muitos dos surfistas locais tenham costume de surfar ondas pesadas e com tamanho.
Acho que neste ano teremos Itacoatiara e Nazaré entre os beach breaks do Tour e ambas serão com 4 estrelas ( a maior pontuação do ano)
Os brasileiros tem força de vontade e talento para vencer, mas admito que não considero nenhum brasileiro favorito. O nível técnico dos principais atletas do tour é superior por uma série de motivos. A maior delas, eu creio que seja a variedade de ondas e situações diferentes que eles buscam treinar. Viajar o mundo e surfar as melhores ondas, nos melhores lugares eleva o nível técnico e o condicionamento físico a patamares altíssimos. A deficiência da economia brasileira e as questões financeiras pessoais também são uma barreira a ser vencida.
Mas o brasileiro está acostumado a jogar na adversidade e a superação é uma marca do nosso povo. Coração e raça são mais importantes que a técnica no meu ponto de vista. Tivemos brasileiros no pódio em todas as edições, muito perto do título. Em algum momento vai acontecer e eu espero que seja neste ano.
RI! – O que acham os tops da onda de Itacoá? Eles chegam antes para treinar?
GL – Forte, pesada, de difícil posicionamento e que exige muita observação.
Certa vez conversando com o Amaury Lavernhe, ouvi uma coisa que achei muito interessante. Ele disse: “Essa é uma das ondas mais difíceis que eu já surfei. Em 20 minutos o seu posicionamento pode passar de ótimo para o pior possível. Exige muita observação”.
Acho que não é a toa que ele venceu aqui duas vezes. O Amaury é um estudioso do corpo e do mar, um exemplo de atleta e exímio observador.
Já ouvi dizer, que Itacoatiara é uma das praias com o maior número de correntes no mundo. Nós estamos acostumados a surfar driblando as valas que se formam após cada série que quebra, mas mesmo assim, ficar “ boiando” meia hora até achar uma boa é normal.É uma onda desafiadora, até mesmo quando está pequeno. O posicionamento é dificílimo.
Esse ano, estou observando que alguns atletas estão chegando bem antes, tenho visto uruguaios, argentinos e portugueses que já estão aqui treinando, além de alguns brasileiros que sempre aparecem para pegar um swell.
Isso é ótimo para a cidade que ganha cada vez mais com a presença dos grandes atletas, isso motiva os locais e movimenta o turismo.
RI! – A esperada estréia das meninas. Porquê incluir a categoria Feminino nessa edição do evento?
O que podemos esperar das brasileiras diante de condições extremas?
GL – Estamos completando 05 anos de Itacoatiara Pro. Muitos já consideram o evento tradicional e eu fico muito feliz por isso, mas por incrível que pareça, sempre existe a cobrança do crescimento e da novidade. Acho que isso faz parte da natureza humana, essa infinita busca por alguma coisa a mais, entretanto, definitivamente esse não é o nosso motivo principal.
Acho que as meninas ocupam um papel fundamental dentro do bodyboarding e que antes de mais nada, elas precisam ganhar força, precisam de um ponto de apoio. As bodyboarders brasileiras são as melhores do mundo e além disso são muito bonitas.
Quero que o Itacoatiara Pro seja esse ponto de apoio, um recomeço, especialmente para elas que estão carentes de bons eventos.
Espero a presença massiva das atletas e um grande número de inscritas para mostrar a força da categoria. A partir disso poderemos escrever um novo futuro para elas.
O alto rendimento das atletas aliado a beleza natural da mulher brasileira é um prato cheio para a mídia.
Assim com fizemos desde 2012 com os homens, é preciso que haja uma reconstrução na base do esporte feminino.
Tenho certeza absoluta que conheceremos novos nomes esse ano e que teremos a presença de grandes ícones do bodyboard feminino.
São 11 dias de janela e as meninas terão as condições adequadas para se apresentar, se estiver grande demais, não colocaremos ninguém em risco.
O evento terá 03 categorias e será um verdadeiro encontro de gerações.
Não posso deixar lembrar que Itacoatiara é uma praia mundialmente conhecida pala beleza das frequentadoras e queremos que elas se sintam motivadas a praticar nosso esporte. Minha expectativa é a melhor possível.
RI! Como está a água do mar de Itacoatiara? Sabemos que o WSL teve que mudar de local em função da poluição. As Olimpíadas estão passando o mesmo com os esportes de mar. Que pensa você sobre isso? Cite a ação ambiental apoiada pelo evento, a preocupação com o microlixo e o envolvimento dos atletas com o meio ambiente durante o evento.
Itacoatiara é considerada a praia com melhor balneabilidade do Rio de Janeiro, exatamente pelo mesmo motivo de receber as maiores ondas do país.
Nossa costa e voltada para o Sul/Sudoeste recebendo de frente os maiores swells que encostam no Brasil.
Somos literalmente “lavados” pela mãe natureza a cada frente fria que nos atinge. Até existem dias onde a água está com uma cor ou cheiro mais forte, mas isso acaba sendo gerado por alguma corrente ou chuva.
Há uma preocupação constante por parte dos frequentadores, especialmente os surfistas, por manter a praia limpa, sem farofa e bem frequentada.
Itacoatiara possui algumas falhas graves, como a ausência de banheiros, de um posto para os guarda vidas adequado e de delimitações para o estacionamento, isso acaba causando um certo transtorno, mas por outro lado afasta os turistas de final de semana.
Existem pessoas sérias que estão lutando pelo selo “ Bandeira Azul” que irá provocar algumas mudanças importantes no local e dentro do mundial teremos uma ação bem bacana envolvendo os atletas e a comunidade.
Temos que fazer a nossa parte, a praia de Itacoatiara está dentro da APA da Serra da Tiririca, que trás uma responsabilidade maior ainda quando falamos de um evento dessas proporções.
RI! – Devido ao título de Campeão Mundial Pro Junior do brasileiro Sócrates Santana, o que podemos esperar para a categoria esse ano no Itacoatiara Pro?
GL – O sucesso da categoria Pro JR é mérito da APB. A quantidade de jovens com grande potencial é enorme e podemos esperar disputas muito acirradas para esse ano. O nível técnico é alto e não falta disposição para essa galera. O fato do Sócrates ter sido o campeão mundial dentro de todas as adversidades que a vida propôs a ele, mostra que o sonho pode ser concretizado com foco e muito treino.
Teremos um grande número de atletas e estamos estudando aumentar o número de vagas para esse ano pois a procura já é grande.
O Itacoatiara Pro é uma grande oportunidade para os atletas ganharem projeção nas mídias. Não há outro momento em que o bodyboarding ganhe tanto espaço e quem tem interesse em lançar-se na carreira precisa estar aqui. Estou certo que neste ano a categoria Pro-JR será um espetáculo a parte.
RI! – Como é a resposta do público durante a etapa comparando com outras etapas do tour realizadas pelo mundo? Cite números.
GL – Além do campeonato na praia, temos uma vasta programação de eventos paralelos e entretenimento que acontece nas duas semanas do Itacoatiara Pro.
Shows, festas, happy hours, ações ecológicas e diferentes práticas esportivas acontecem durante o período e temos uma estimativa de público que supera 50.000 pessoas quanto juntamos todas essas atividades. O Itacoatiara Pro é a etapa com os maiores números de acessos no Webcasting, Highlights e mídias sociais.
Estamos a cada ano, investindo mais em mídia, por que é nisso que as empresas se baseiam para definir quais os eventos que irão investir. Temos uma equipe de nível internacional, que é responsável por nossas produções e trabalha nossa comunicação visual.
A resposta tem sido muito boa e mais do que duplicamos nossos números no último ano.
Agora com a inclusão da categoria feminino pro, acredito ter chegado ao ponto onde sempre imaginei e não tenho dúvidas que nossos números irão subir consideravelmente.
RI! – De onde vem a tradição de Itacoatiara em sediar eventos de Bodyboarding?
GL – O primeiro campeonato de bodyboarding do Brasil aconteceu em Niterói, na praia de Piratininga.
Não sei se isso está ligado ao fato, mas eu não acredito que haja outro lugar com tantos praticantes de bodyboarding como Itacoatiara, proporcionalmente. Nosso país tem uma costa imensa, e já surfei do Rio Grande do Sul ao Ceará e são poucos os points onde o bodyboarding é dominante.
Eles existem e normalmente são em praias pequenas, ou nos cantos onde formam triângulos e as ondas são tubulares e perto da areia.
A verdade é que o bodyboarding aconteceu aqui, por que ele movimenta a economia, por que ele se sustenta.
Enquanto nós atletas estivermos preocupados em capitalizar a região através do esporte, trazendo turistas, consumindo e colocando dinheiro no local, receberemos o suporte das empresas e faremos a economia girar.
É preciso motivar os entusiastas do esporte e principalmente os adolescentes que são os grandes consumidores, que irão comprar produtos e serviços fomentando toda a região.A questão é muito mais relacionada a economia do que a tradição.
Temos sim, boas ondas e excelentes atletas que desde os anos 80 levam o nome de Itacoatiara pelo mundo a fora, além de um grande número de produtores de vídeo e fotógrafos que divulgam a praia, é um conjunto de fatores que faz de Itacoatiara a capital do bodyboarding brasileiro.
RI! – A onda de Itacoatiara é um dos mais poderosos beach breaks do mundo e a comunidade global só veio reconhecer realmente que no Brasil tem onda, depois que começaram as etapas do APB Itacoatiara Pro. O que você sente como um local, ao trazer essa imagem do esporte para o reconhecimento ?
GL – Me sinto responsável em parte pelo sucesso do esporte em Itacoatiara, por que sou uma pessoa que trás muito dinheiro para a região através do Itacoatiara Pro. Desde 2012 são quase U$ 200.000 dólares em prêmios pagos pelo evento, mais de R$ 10.000.000 ( dez milhões de reais) injetados diretamente na economia em produtos e serviços ligados a movimentação do evento ( alimentação, transporte, hospedagens, produtos…), mais de R$ 50.000.000,00 ( Cinquenta milhões de reais) em mídia gerada através de jornais, revistas, websites, programas de televisão, chamadas de rádio, blogs, e uma infinidade de posts nas mídias sociais, que são decorrentes do nosso trabalho. A onda de Itacoatiara pode ser jogada em video game, e muitas outras coisas que não podem ser monetizadas, mas que indiretamente são benefícios que movimentam toda a economia da cidade.
Estou construindo e fortalecendo a marca do Elefante que simboliza o Itacoatiara Pro, para que ele seja um símbolo de orgulho não apenas para os bodyboarders, mas para todos que como eu acham que Itacoatiara é um lugar especial e abençoado.
E espero que as pessoas vistam a camisa e consumam os produtos Itacoatiara Pro assim como os produtos produzidos pelas empresas que investem no bodyboarding.
RI – Como você vê o bodyboarding brasileiro no momento e nos próximos anos?
GL – Eu tenho motivos de sobra para acreditar no bodyboarding brasileiro e estou certo do sucesso dele pelo país, mas se ele for gerido com competência.
Só vontade não basta, é preciso trabalhar em alto nível desde a elaboração do projeto até a execução na praia.
Vejo muitas pessoas apaixonadas pelo esporte, mas não há uma liderança e são poucos com experiência em gestão e bom gosto.
É impossível agradar a todos, mas alguém precisa tomar as decisões e apresentar bem o produto, com uma visão empreendedora.Existem coisas boas produzidas pelos bodyboarders, mas as vezes vejo algumas artes ou vídeos tão ruins na Internet, que fica claro que foi feito por uma pessoa despreparada. A intenção pode até ser boa, mas a consequência não é, e isso acaba prejudicando a imagem do esporte como um todo.A Confederação Brasileira por exemplo, precisa de uma atenção especial nesse momento. Uma gestão que unifique todo o país e a consolide novamente como o órgão máximo do esporte nacional. Uma padronização na comunicação e nos eventos, um planejamento com objetivos e metas definidas. Mas isso requer um recomeço, com uma equipe de confiança, que tenha visão de marketing, comercial e jurídica capaz.
Eu teria imenso prazer em fazer parte dessa equipe, caso fosse convidado me recebesse autonomia e recursos para continuar o que faço pelo Itacoatiara Pro, voltando a experiência adquirida para o mercado brasileiro, mas isso não depende de mim. Não sei como andam os antigos gestores e se existe algum projeto em andamento. Com uma equipe boa, não tenho dúvidas que em dois anos teríamos grandes mudanças e que em 05 anos teríamos uma realidade completamente diferente.
Temos o produto, mas ele precisa ser gerenciado por pessoas que sabem o que estão fazendo.
Agradecimentos:
Quero deixar meu agradecimento especial a minha esposa Clara Petrucci e aos meus sogros Edgard e Luiza que me apoiam e acreditam no meu trabalho.
Ao meu pai, a minha mãe que me ajudaram a construir meu caminho como pessoa e profissional e ao meu irmão Bernardo Lara que sabe da importância desse projeto para a nossa família e que cada vez mais, estará a frente da organização do evento e das decisões. Aos amigos Pedro Kurdian, Hugo Alexandre, Alef Paredes e Chico Garritano que me ajudam a realizar esse trabalho durante todo o ano dividindo tarefas e conquistas. A Bruno Souza, Zeca Azevedo e Fernando Fonte, chefes da Secretaria de Esporte e Lazer de Niterói que fazem esse evento parte do calendário esportivo da cidade. E a todos que direta ou indiretamente acreditam no Itacoatiara Pro e ajudaram a transformá-lo em referência de qualidade no Bodyboarding Mundial.
Acompanhe as noticias na fanpage do evento: Itacoatiara Pro